Thursday, May 03, 2007

25 de Abril sempre...e mais umas coisas


Para aqueles que nunca souberam o que foi e aqueles que dizem que está tudo mal e os que acham que faltam 20 Salazares , os que não ligam, deixo o meu sentimento:

25 de Abril sempre... nem que seja para se ouvir estar baboseiras na rua sem direito a repressão.

Obrigado aqueles que nos deram a situação unica de fazer uma revolução sem mortos (com um, ali entre duas urbanizações de luxo no Chiado, quando os Pides decidiram que até deviam disparar sobre as pessoas na rua) e uma das unicas revoltas de esquerda feita por militares regulares...Somos diferentes e com o que se comemora neste dia somos também livres

Para comemorar esta data lembrei-me do poeta Ary dos Santos pois foi provavelmente o último a cantar a revolução na poesia com a força merecida. Mas para mim ele é a pessoa que juntou as palavras neste poema especial:


Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto.


E este poema é demasiado especial para não estar aqui, para não ser entregue, lido, dedicado, declamado, oferecido, vivido, sentido, sofrido...lembrado, vivido.


O Bruno Nogueira no seu blog (o primeiro hit do Goggle para Estrela da Tarde) diz uma coisa bonita: Mais do que um poema a rasgar os limites do bonito, é muito, muito mais que isso.

Ó Bruno é tão mais que isso...

... e meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto.

1 Comments:

Blogger Hannah said...

Se existem poemas que nos arrebatam, ou que me arrebatam, este é um deles. É lindíssimo, é maravilhoso... e um *obrigada* a ti e tu sabes porquê.

Beijinho

2:24 PM  

Post a Comment

<< Home