Pai, Trabalho e Emoção

Tudo embrulhado e misturado num dia estranho. Estou cheio de trabalho, trabalho chato, cheio de ansiedade e stress, mas trabalho que desta vez poderá ter resultados. No meio deste trabalho muitas das vezes temos as decisões ou pelo menos escutamos as decisões que fazem números parecer tão pouco pessoas, vidas, emoções…passam a ser números, sobre os quais se fazem contas de somar e dividir, perdendo tantas vezes a noção do que são…Merda de trabalho este, isto leva ao fluir dos pensamentos que tinha ontem quando fui dar ao meu Pai, pessoa com um trabalho de paixão e que sempre disse que queria morrer no sitio onde trabalhava, a trabalhar. Claro que isto só acontece quando se trabalha pró conta própria, (eu quero lá saber da multinacional, e ela de mim…). Acho que nunca me vai acontecer isso e parece-me muito mais emocionante trabalhar com esta paixão.
Ontem depois de estar a pensar isto fui para o sítio onde o meu pai trabalhou e descobri que realmente ele morreu lá: o tempo que anda para a frente parou lá dentro daquelas paredes, o calendário mostra o dia em que ele entrou no hospital e ninguém teve coragem de arrancar a página…o tempo realmente parou ali. Ficaram as tesouras, os ferros, o giz preparadas para que a qualquer momento retomar a actividade: isto é morrer a trabalhar. Claro que os sentimentos perante esta situação são muitos e são mistos mas sinceramente olhar para o 3 de Junho faz-me pensar.
Ora não é que acabo o dia a saber que as Finanças decidiram homenagear o meu pai com uma carta a pedir para apresentação do atestado de óbito e dos nomes dos herdeiros.
Tudo ligado num dia triste, mas tudo ligado….Isto há cada coisa.